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Artigo

Semiárido resiliente: soluções hídricas e adaptação climática no Brasil

cisterna para água de chuva

Do combate à convivência: O Legado de inovação para a agricultura familiar nordestina

João Suassuna analisa a transformação do semiárido, destacando a importância de cisternas e barreiros para a segurança alimentar e o bem-estar das comunidades.

 

Convivência com o Semiárido

Artigo de João Suassuna

 

Introdução

A convivência com o semiárido brasileiro representa uma abordagem fundamentada na adaptação às condições naturais da região, em contraste com a antiga lógica do combate à seca. Essa perspectiva reconhece as especificidades climáticas, ecológicas e sociais do semiárido, promovendo estratégias sustentáveis de desenvolvimento que respeitam os limites do ambiente. A região, marcada por baixos índices pluviométricos, chuvas irregulares e longos períodos de estiagem, demanda soluções integradas para garantir a sobrevivência e o bem-estar das populações que nela vivem.

Nesse contexto, destaca-se a importância do conhecimento sobre a flora e da pecuária adaptadas às condições de escassez hídrica e alta temperatura. Tais espécies servem como base para práticas agrícolas sustentáveis e para o uso racional dos recursos naturais. A questão hídrica, por sua vez, é central nas políticas e tecnologias de convivência, envolvendo ações estruturadoras como a construção de cisternas, barreiros, sistemas de reuso de água e a captação da água de chuva. Essas medidas, somadas a iniciativas complementares de educação ambiental, capacitação técnica e fortalecimento da agricultura familiar, contribuem para a resiliência das comunidades rurais.

A caracterização do semiárido como um território de potencial produtivo exige a articulação entre saberes tradicionais, inovação tecnológica e políticas públicas eficazes. A Fazenda Carnaúba, situada no município de Taperoá, PB, é um exemplo emblemático desse modelo, ao adotar práticas agroecológicas que conciliam produtividade e conservação ambiental. Casos como esse reforçam a necessidade de intensificar pesquisas e investimentos em tecnologias de convivência, assegurando a sustentabilidade econômica, social e ambiental da região semiárida.

O significado da convivência

Ao se analisar a história das secas no Nordeste brasileiro, é evidente que, durante muito tempo, prevaleceu entre especialistas, políticos e intelectuais a ideia de que o Semiárido nordestino abrigava um inimigo implacável a ser combatido: a seca. Diante disso, por várias décadas, os governantes brasileiros desenvolveram políticas públicas voltadas à luta contra os prolongados períodos de estiagem. O objetivo era claro: derrotar a seca.

Foi nesse contexto que, em 1909, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), uma instituição com a missão de realizar diversas construções no Semiárido, como açudes, adutoras, poços profundos, estradas, pontes e outras obras de infraestrutura. Anos depois, a IOCS ou a ser conhecida por outra sigla: desde 1945, tornou-se o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).

O DNOCS foi responsável pela construção de grandes obras que ainda hoje marcam a paisagem e a história sertaneja, como os açudes Orós, Castanhão e Armando Ribeiro Gonçalves — três importantes reservatórios de água do Semiárido brasileiro. Apesar da inegável relevância dessas realizações, a maior parte dos projetos concebidos pela instituição baseava-se na lógica do combate à seca.

No entanto, a seca, enquanto fenômeno natural, não pode ser combatida nem vencida. Hoje, sabe-se que os longos períodos de estiagem no Semiárido são eventos cíclicos e naturais. As secas são recorrentes. Por isso, após sucessivas tentativas fracassadas de “derrotá-la”, começaram a surgir, na região, sistemas de produção mais condizentes com a realidade local, e ganhou força uma nova abordagem: a convivência com o Semiárido.

O Semiárido brasileiro — também conhecido como Sertão, cenário geográfico onde ocorrem as secas — abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Estima-se que essa região abrigue cerca de 25 milhões de pessoas, das quais, em períodos críticos de seca, cerca de 10 milhões enfrentam a fome e a sede. Trata-se de uma área de altas temperaturas (média de 26 °C) e regime pluviométrico bastante irregular. A precipitação anual varia entre 400 e 800 mm, totalizando cerca de 700 bilhões de m³ de água por ano. Os solos são, em geral, rasos e pedregosos (escudo cristalino), com vegetação do tipo xerófila.

Essas características ambientais, ligadas ao solo e ao clima, fundamentam sua divisão em zonas como Caatinga, Seridó, Carrasco e Agreste. As estiagens prolongadas, que ocorrem ciclicamente, causam prejuízos à economia regional e acarretam elevados custos sociais.

Embora mais industrializada do que no ado, a economia da região ainda se apoia majoritariamente no setor primário, com destaque para a pecuária extensiva e a agricultura de baixo rendimento.

Uma análise criteriosa dessas questões é indispensável para quem deseja compreender o potencial dos recursos naturais do Semiárido e, sobretudo, os elementos biológicos que nele vivem. Esse é o foco principal do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), sediado em Campina Grande, na Paraíba.

Não há muito o que inventar, mas sim muito o que aprender com a diversidade natural da região — e pensar, de forma conceitual, na semiaridez como uma vantagem.

Plantas e animais adaptados à região

Atualmente, é indispensável, no Semiárido, ampliar os esforços voltados ao manejo adequado dos elementos biológicos — plantas e animais — em sintonia com as peculiaridades climáticas e socioculturais da região.

A identificação de forrageiras apropriadas e a produção básica de suas sementes constituem um processo técnico essencial. Para combater a pobreza no meio rural nordestino, é preciso considerar essas especificidades desde o início.

A vocação natural do uso da terra e a harmonia necessária entre os animais e o ambiente apontam para a criação de sistemas de produção específicos e sustentáveis, que devem começar pela escolha criteriosa das espécies — tanto vegetais quanto animais.

A vegetação nativa, a caatinga, é rica, mas ainda carece de estudos aprofundados voltados à perenização de seu estrato herbáceo e ao uso racional de seus recursos.

É fundamental desenvolver ações voltadas à preservação dos ruminantes de pequeno porte, com foco na multiplicação das raças nativas de cabras e ovelhas do Semiárido, que possuem múltiplas aptidões produtivas: leite, couro e carne. Destacam-se as cabras rústicas, de pelos curtos, e as ovelhas deslanadas, prolíficas, com excelente qualidade de pele e carne.

No caso dos bovinos, é essencial optar por raças zebuínas, originárias dos pré-desertos asiáticos, que produzem leite nutritivo, possuem capacidade digestiva eficiente para materiais fibrosos e apresentam carcaça enxuta, com carne saudável. Além do Guzerá e do Sindi, destaca-se o gado “pé duro”, do Piauí — uma raça historicamente adaptada ao Semiárido desde o período colonial, com alto potencial produtivo e baixo custo de manutenção.

O foco do trabalho deve ser o melhoramento funcional e a seleção inovadora, por meio de rigorosos controles zootécnicos desse valioso patrimônio genético, caracterizado por sua impressionante rusticidade e perfeita sintonia fisiológica com as condições da região, moldadas ao longo de cinco séculos de adaptação.

Esses animais, além de seu valor zootécnico, fazem parte da história de vida do povo nordestino. Foram fonte de leite, carne, couro e força de trabalho para nossos anteados, integrando-se profundamente ao nosso patrimônio sociocultural.

A Questão Hídrica

Cerca de 70% da superfície do Semiárido nordestino é formada por geologia cristalina. Nesse tipo de estrutura, os escoamentos superficiais são significativamente maiores do que a infiltração da água no solo. Essas características dos solos resultaram em uma corrida pela construção de represas, visando ao armazenamento das águas para posterior aproveitamento. Atualmente, estima-se que existam cerca de 70.000 represas de pequeno, médio e grande porte no semiárido nordestino.

Essas represas acumulam um volume aproximado de 37 bilhões de m³ de água — o maior volume represado em regiões semiáridas do mundo. Apesar disso, não há na região uma política pública eficaz que garanta o abastecimento hídrico das populações, especialmente daquelas dispersas pelo território. A malha de adutoras responsável por levar água até essas comunidades é incipiente. Como resultado, muitas famílias vivem nas proximidades dessas represas sem ter o à água. Soma-se a isso a ausência de vontade política para resolver um problema histórico que aflige milhões de nordestinos.

A água subterrânea é frequentemente apontada como solução para a crise hídrica regional. Embora importante, essa alternativa não resolve, por si só, todos os desafios. A geologia da região — predominantemente cristalina — dificulta a formação de aquíferos com volumes significativos. Os lençóis subterrâneos ocorrem nas fraturas das rochas e nos aluviões próximos a rios e riachos, sendo geralmente de baixa vazão e má qualidade. A água que interage com esse substrato geológico tende a se mineralizar com facilidade, tornando-se salinizada. Estima-se que cerca de 35% dos 60.000 poços perfurados em áreas de embasamento cristalino estejam secos, obstruídos ou apresentem água imprópria para o consumo humano devido ao excesso de sais.

O uso de dessalinizadores, nesses casos, ainda é economicamente inviável: o custo de 1 m³ de água dessalinizada gira em torno de US$ 0,80. Apesar dos avanços em pesquisas para aumentar a eficiência dos dessalinizadores e reduzir seus custos, é fundamental explorar de forma racional as áreas de geologia sedimentar, onde há maior potencial de armazenamento e qualidade hídrica. Um exemplo de desperdício é o caso do estado do Piauí, que não aproveita adequadamente as águas dos poços jorrantes do vale do rio Gurgueia, no município de Cristino Castro, onde a água jorra 24 horas por dia sem um plano de uso adequado que justifique os investimentos feitos.

Existem, no entanto, alternativas viáveis e de baixo custo para atender populações difusas do Semiárido. Um exemplo é a atuação da ASA Brasil (Articulação no Semiárido Brasileiro), organização não governamental que vem difundindo tecnologias sociais de captação e armazenamento de água, como as cisternas de placas, barragens subterrâneas, barreiros trincheira e mandalas. Essas soluções têm contribuído para mitigar os efeitos da escassez hídrica entre as populações mais vulneráveis.

Outra iniciativa importante foi a publicação, em dezembro de 2006, do Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água, sob a responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA). Esse documento oferece um diagnóstico detalhado da situação hídrica da região e propõe soluções baseadas na implantação de adutoras, visando beneficiar municípios com até 5.000 habitantes, alcançando uma população estimada de 34 milhões de pessoas.

Convivência com as Secas

 Caracterização da Região

O Nordeste brasileiro, formado por nove estados, ocupa aproximadamente 1.640.000 km², o que representa 18,3% do território nacional. A região semiárida nordestina é predominantemente caracterizada pela presença do bioma caatinga, típico do sertão. O clima no sertão é quente e seco, com chuvas concentradas nas estações de verão e outono.

Diversas massas de ar influenciam o clima regional — como a Equatorial Atlântica, a Equatorial Continental, a Polar e as Tépidas Atlântica e Calaariana —, mas sua penetração no interior nordestino ocorre com pouca intensidade. Isso torna extremamente variável não só o volume das precipitações, mas, sobretudo, os intervalos entre elas. Chove pouco (em média, de 500 a 800 mm por ano, com áreas que recebem apenas 400 mm), e as chuvas são mal distribuídas ao longo do tempo, fazendo da regularidade um fator incerto. Assim, o que caracteriza uma seca não é apenas a escassez de chuva, mas a sua má distribuição temporal.

Outros fenômenos também influenciam o clima da região, como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), os ventos alísios que trazem umidade do oceano, o El Niño (que bloqueia frentes frias vindas do Sul) e o dipolo térmico do Atlântico — em que a maior temperatura das águas do Atlântico Sul em relação ao Norte favorece a ocorrência de chuvas.

A proximidade da linha do Equador também marca o clima da região: temperaturas elevadas (média anual de 26°C), elevado número de horas de sol (cerca de 3.000 por ano) e alta evapotranspiração (média de 2.000 mm/ano, podendo atingir 7 mm/dia em algumas áreas), em razão da incidência quase perpendicular dos raios solares.

Do ponto de vista geológico, o Nordeste é composto por dois grandes domínios: o embasamento cristalino, que cobre cerca de 70% da área semiárida, e as bacias sedimentares.

No embasamento cristalino, os solos são geralmente rasos (cerca de 60 cm de profundidade), com baixa capacidade de infiltração, alto escoamento superficial e drenagem limitada. Pode-se comparar a dinâmica da água nesses solos à de um prato: pouca infiltração e rápida perda. Os aquíferos, chamados fissurais, armazenam água em fraturas das rochas. Essa água é, em geral, salobra e de baixa qualidade, servindo principalmente ao consumo animal. A média de sólidos dissolvidos nas águas desses poços, conforme análises de 1.600 poços em Pernambuco, é de 1.924 mg/l, podendo atingir até 31.700 mg/l. Além da qualidade, as vazões também são baixas — cerca de 1.000 litros/hora, em média.

Já nas bacias sedimentares, os solos são profundos (superiores a 2 m, podendo ultraar 6 m), com alta infiltração, baixa taxa de escoamento e boa drenagem. Isso garante a formação de lençóis freáticos protegidos da evaporação e com água de boa qualidade. Contudo, essas bacias estão distribuídas de forma esparsa e desigual, sendo que 70% da água subterrânea se concentra nas bacias dos estados do Piauí e Maranhão.

De acordo com o hidrogeólogo Aldo Rebouças, o potencial anual de água subterrânea no embasamento cristalino é de apenas 80 km³, enquanto nas regiões sedimentares os volumes são muito maiores — por exemplo, a bacia de São Luís/Barreirinhas possui 250 km³/ano; a do Maranhão, 17.500 km³/ano; a Potiguar/Recife, 230 km³/ano; a Alagoas/Sergipe, 100 km³/ano; e o conjunto Jatobá/Tucano/Recôncavo, 840 km³/ano.

O relevo sertanejo é dominado por depressões interplanálticas, transformadas em planícies de erosão, marcadas por pediplanos secos em processo de desgaste. Os solos, em geral pedregosos e rasos, incluem tipos como o bruno-não-cálcico, os planossolos, os solos litólicos e os regossolos — pouco apropriados à agricultura convencional, embora existam áreas de solo fértil com potencial agrícola.

A vegetação da caatinga é uma formação xerófita aberta, marcada por arbustos espinhosos e cactáceas colunares. Apesar de seu aspecto agressivo, em algumas áreas elevadas surgem os chamados “brejos de altitude”, onde a umidade gerada por chuvas orográficas permite a existência de matas úmidas.

A economia do sertão baseia-se na criação extensiva de bovinos, caprinos e ovinos, e no cultivo de espécies resistentes à seca, como o algodão, a carnaúba e o licuri. Em áreas mais úmidas, predominam o milho, o feijão e a mandioca, enquanto a cana-de-açúcar é cultivada nos brejos, como em Triunfo (PE) e Areia (PB).

O agreste, faixa de transição entre o sertão e a Zona da Mata, possui vegetação diversificada, combinando características da mata atlântica, da caatinga e das matas secas. Estendendo-se do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, essa região é marcada pela agropecuária de base diversificada, com produção de leite, ovos, hortaliças, frutas, gado de corte, aves, além de fibras como algodão e sisal.

O Nordeste abriga cerca de 53 milhões de habitantes — aproximadamente 25% da população brasileira —, dos quais 25 milhões vivem na região semiárida, que cobre 1.000.000 km², o equivalente a 61% do território nordestino. Essa região é afetada por secas cíclicas, causadas por fatores atmosféricos globais com efeitos devastadores, afetando principalmente as atividades agroextrativistas e pecuárias.

No século XX, o enfrentamento das secas ganhou caráter institucional. O governo destinou orçamento específico e criou três comissões: a de açudes e irrigação, a de estudos e obras contra os efeitos das secas e a de perfuração de poços — das quais apenas a primeira se manteve ativa.

A convivência com a seca ou a depender quase exclusivamente da construção de grandes obras hidráulicas. Os açudes públicos — reservatórios de grande porte, capazes de resistir a longos períodos de estiagem — tornaram-se estratégicos. Estima-se que o Semiárido nordestino possua mais de 70 mil açudes e barragens, com capacidade total de armazenamento de cerca de 37 bilhões de m³, a maior reserva artificial de água em regiões semiáridas do mundo. No entanto, apenas 30% desse volume é efetivamente utilizado para abastecimento e irrigação, revelando falhas no planejamento da gestão hídrica.

Por outro lado, de acordo com Aldo Rebouças, as descargas dos rios infiltram cerca de 58 bilhões de m³ de água por ano nos aquíferos, o que permitiria abastecer toda a população nordestina com 200 litros por habitante por dia (como preconiza a OMS) e irrigar mais de 2 milhões de hectares. A limitação, portanto, não está na quantidade de água disponível, mas na ausência de um sistema de gestão eficiente e sustentável.

A exploração dos açudes seguiu dois eixos principais: abastecimento populacional e uso agrícola, com um terceiro uso complementar na atividade pesqueira. A instalação dos perímetros irrigados visava à transição da agricultura extensiva para a intensiva, reduzindo os impactos das secas. Destacam-se os perímetros do Cedro (CE), Sumé e São Gonçalo (PB), e Cruzetas e Pau dos Ferros (RN). Atualmente, a região conta com cerca de 50 perímetros irrigados e aproximadamente 300 açudes públicos.

A política de irrigação só ganhou prioridade a partir do final da década de 1960, com a criação do GEIDA (Grupo Executivo para Irrigação e Desenvolvimento Agrícola). O maior impulso ocorreu com o Programa de Integração Nacional (PIN), que deu origem ao Programa de Irrigação do Nordeste (PROINE), entre 1972 e 1974, alinhando irrigação à convivência com as secas e ao desenvolvimento regional.

Apesar de estudos detalhados sobre solos e recursos hídricos, ainda não há estimativas precisas sobre a área irrigável do Nordeste com as águas do rio São Francisco. Calcula-se que a área irrigável no polígono das secas seja de cerca de 2,2 milhões de hectares — dos quais 340 mil já irrigados. A projeção máxima é de 2,5 milhões de hectares, o que representa apenas 2% da área total do Nordeste, devido a limitações de solo e, sobretudo, de água de qualidade.

Mesmo assim, ações governamentais — sobretudo estaduais — têm incentivado a pequena irrigação nos 98% restantes da área, com projetos voltados a agricultores de baixa renda, utilizando recursos locais como poços, pequenos açudes e rios. Em Pernambuco, destacam-se projetos como Chapéu de Couro, Asa Branca, Água na Roça e Terra Pronta; na Paraíba, o projeto Canaã. Em nível federal, merecem destaque o Sertanejo, o GAT/PDCT-NE e o Polo Nordeste, todos com o objetivo de promover alternativas sustentáveis para a fixação do homem no campo.

Sustentabilidade no Semiárido

A síntese histórica da ocupação e do uso das terras no Semiárido orienta a reflexão sobre as ações antrópicas praticadas desde o período colonial até os dias atuais, bem como as medidas estruturantes necessárias ao desenvolvimento sustentável da região.

O primeiro momento histórico remonta à época em que a civilização canavieira expulsa os rebanhos de suas áreas e leva o homem a adentrar o interior nordestino em busca de condições adequadas à criação de gado. No sertão, encontra-se um ambiente propício: vastas extensões de terra cobertas por vegetação arbórea esparsa e gramíneas nativas, que serviam como pasto natural. Nesse estágio, há uma relação de conivência com a natureza, utilizando-se os recursos disponíveis da caatinga sem grandes alterações no ecossistema. A transformação do espaço ocorria de forma direta, com baixo impacto ambiental.

O segundo momento inicia-se com o desmatamento da caatinga visando à criação de pastagens artificiais para atender à crescente demanda pecuária. Inicia-se, assim, um processo intenso de desorganização e reorganização dos ecossistemas naturais, sem qualquer preocupação com manejo ou preservação. Paralelamente, o crescimento populacional pressiona a expansão das áreas cultivadas com alimentos, intensificando ainda mais o uso do solo. No primeiro caso, observa-se um acelerado processo de sucessão ecológica, com impactos significativos sobre a fauna. No segundo, surgem agroecossistemas dispersos por toda a região sertaneja.

A escassez de água, já crítica, torna-se um elemento central no processo de intervenção. Apesar de algumas vantagens das áreas de “stress hídrico”, como a formação de pastos e controle sanitário dos rebanhos, a limitação hídrica compromete severamente a agricultura. A busca pela otimização do uso da água leva à implantação do Programa de Grande Açudagem pelo governo federal.

A construção dos grandes açudes públicos dá origem a verdadeiros oásis. As fazendas adquirem caráter grandioso, visível nas residências do proprietário, nos currais e nas moradias dos trabalhadores. Essa paisagem expressa uma nova organização socioecológica no Semiárido, marcando a reorganização do espaço produtivo e das relações sociais.

Por um lado, a grande açudagem representa a presença do Estado na região. Por outro, configura-se como um agente exógeno de transformação drástica da paisagem. O represamento de grandes volumes de água subtrai do ambiente solos férteis e vegetação, especialmente solos aluviais, gerando impactos mais qualitativos do que quantitativos. Esses efeitos poderiam ter sido minimizados se os açudes atendessem de fato às necessidades da população local — o que não ocorreu.

A açudagem também impulsionou a transição de uma agricultura sazonal para uma agricultura irrigada. O DNOCS, ao propor o manejo dessas águas, implementou os chamados perímetros irrigados, que ampliaram ainda mais as intervenções no meio ambiente. A flora e a fauna nativas enfrentaram níveis graves de degradação, restando a vegetação da caatinga apenas em áreas restritas.

Os efeitos antrópicos diversificaram-se. A vegetação nativa foi amplamente substituída por sistemas agropastoris. O solo, com o uso intensivo, perdeu matéria orgânica e ou a sofrer processos acentuados de erosão. O que se observa são campos de pastagem, cultivos de algodão, milho e feijão, intercalados por áreas de caatinga visivelmente degradadas.

A proposta de zoneamento do uso do solo tem se mostrado ineficaz para elevar a qualidade de vida dos trabalhadores rurais. Entre os principais problemas estão a pequena dimensão das áreas destinadas a cada família e a ausência de políticas efetivas de desapropriação. Esse cenário favoreceu a apropriação das terras por grandes fazendeiros, inclusive das faixas de influência dos açudes, muitas vezes estendendo cercas até a lâmina d’água. Esse prolongamento da propriedade evidencia que os principais beneficiários da açudagem foram os latifundiários, que conseguiram assegurar o abastecimento hídrico de seus rebanhos.

Atualmente, muitos solos encontram-se abandonados devido ao esgotamento de nutrientes, à erosão causada pela destruição da cobertura vegetal e à salinização. Núcleos de desertificação se formam em diversas áreas. O Ministério do Meio Ambiente já reconheceu quatro deles: Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE), que juntos somam 18.177 km² e afetam cerca de 400 mil pessoas.

O terceiro momento é marcado pela introdução planejada da irrigação no Semiárido, iniciada em 1968 e expandida em 1985 com o Programa de Irrigação do Nordeste (PROINE). Esse período é caracterizado pela intensificação da pressão sobre os recursos naturais, sobretudo o solo e a água. A salinização e a contaminação tornam-se problemas visíveis.

A irrigação no Semiárido depende de fatores como topografia, drenagem e composição físico-química do solo. Predominam, na região, solos rasos, de difícil drenagem, com elevada concentração de argilas e sais, favorecendo a salinização. A evapotranspiração, intensificada pelo clima árido, agrava o problema, principalmente quando a drenagem é ineficiente. Exemplo alarmante é o perímetro irrigado do Moxotó (PE), com mais de 30% de suas terras salinizadas. Esse índice se repete em outros perímetros irrigados do Nordeste.

Outro impacto ambiental importante é a contaminação da água e do solo por agrotóxicos, algas e bactérias. Culturas de ciclo curto, como tomate, melão e milho, recebem elevadas cargas de defensivos agrícolas, frequentemente aplicados sem orientação técnica. Nas bordas dos açudes, o problema se intensifica: a água de irrigação retorna aos reservatórios carregando pesticidas e partículas em suspensão, além de resíduos orgânicos provenientes de animais mortos expostos ao sol. O resultado é a contaminação das águas — como demonstrado no caso da clínica de hemodiálise de Caruaru (PE), nos anos 1990, em que uma microalga presente na água utilizada causou mortes —, além do assoreamento progressivo dos reservatórios.

Esses fatores revelam a complexidade e a gravidade dos problemas ambientais no Semiárido. A esses se somam a pobreza extrema da população local, a precariedade dos serviços públicos de saúde e educação e uma das estruturas fundiárias mais concentradas do país, com relações sociais arcaicas. A modernização agrícola pouco contribuiu para solucionar o problema estrutural do campo. A maioria das terras continua nas mãos de poucos. Apenas 5,5% das propriedades possuem menos de 10 hectares, enquanto aquelas com mais de 1.000 hectares concentram 30% das terras — e muitas delas são destinadas majoritariamente à pecuária extensiva.

No submédio do São Francisco, onde se concentra grande parte dos projetos de irrigação, o panorama não é diferente. Enquanto a população cresce a uma taxa anual de 4%, o número de propriedades com mais de 200 hectares aumentou mais de 550% entre 1970 e 1980.

Diante de tal quadro, torna-se urgente a elaboração de um programa de intervenção no Semiárido que contemple medidas estruturantes de curto e médio prazos, voltadas não apenas à produtividade agrícola, mas principalmente à conservação e recuperação ambiental da região.

Ações Estruturadoras para o Semiárido

Diante dos ciclos naturais de seca que ocorrem no Nordeste — sem possibilidade de evitá-los —, o ser humano tem buscado, por meio de tecnologias apropriadas, enfrentar seus efeitos e viabilizar uma convivência sustentável com o meio semiárido da região.

Quando se trata de tecnologias agrícolas voltadas ao Semiárido — especialmente aquelas que favorecem a fixação do homem no campo — é fundamental considerar a capacidade de e ambiental da região. Nesse sentido, há motivos para otimismo.

Como mencionado anteriormente, apenas 2% da área do Nordeste é irrigável. Apesar das limitações quanto à qualidade dos solos e à disponibilidade de água, tanto em quantidade quanto em qualidade, a região pode se tornar um dos maiores polos de fruticultura do mundo. Estima-se que o Vale do Rio São Francisco tenha um potencial de irrigação de cerca de 1 milhão de hectares. Para efeito de comparação, o Chile — país de clima temperado — produz anualmente cerca de 1,5 bilhão de dólares em frutas, utilizando apenas 200 mil hectares irrigados. O Semiárido nordestino pode produzir até cinco vezes mais, com a vantagem de dispor de um clima tropical, sem ocorrência de neve no inverno, e com elevada insolação — cerca de 3.000 horas de sol por ano — o que possibilita até três colheitas anuais, desde que utilizadas técnicas avançadas de irrigação. Culturas como uva, manga e melão são exemplos promissores nas margens do São Francisco.

No planejamento da irrigação, é crucial considerar fatores como solo, relevo, disponibilidade hídrica e as culturas adequadas a cada subárea do sertão. A formulação de uma política eficiente depende do conhecimento preciso das reais possibilidades de irrigação em todo o Semiárido nordestino.

Muito se fala sobre um suposto lençol freático abundante no Nordeste, sugerindo que sua exploração poderia solucionar os problemas hídricos da região. No entanto, essa visão exige cautela. A existência de água subterrânea depende da geologia local.

As áreas sedimentares, propícias ao acúmulo de água subterrânea, são limitadas. O estado do Piauí, quase inteiramente coberto por essas formações, apresenta exemplos de abundância hídrica, como os poços jorrantes de Cristino Castro. Nessas áreas, a exploração da água subterrânea deve, de fato, ser estimulada. Contudo, não se pode generalizar esse caso para toda a região. Cerca de 70% do Semiárido está situado sobre embasamento cristalino, onde a água só se acumula em fraturas nas rochas ou em aluviões ao longo de rios e riachos, geralmente em pequenas quantidades e com alto teor de salinidade.

Paralelamente à questão da água subterrânea, discute-se amplamente a polêmica transposição das águas do Rio São Francisco como uma alternativa redentora para mitigar a escassez hídrica no Nordeste. Essa proposta, no entanto, deve ser analisada com maior responsabilidade. As prioridades históricas do uso das águas do São Francisco sempre foram a geração de energia elétrica e a irrigação, devendo ser tratadas como questões de segurança nacional. O rio, cujo curso atravessa exclusivamente regiões de embasamento cristalino, possui afluentes temporários. Como consequência, sua vazão sofre redução significativa nos períodos de estiagem.

Segundo dados do MapBiomas, entre 1985 e 2020, houve uma redução volumétrica de 4% na bacia do São Francisco, apesar do aumento artificial da disponibilidade hídrica em razão da construção de reservatórios. Estima-se que cerca de 79% da água do rio seja utilizada na irrigação, grande parte de forma ilegal e sem fiscalização adequada.

Para garantir vazão suficiente à geração de energia elétrica no complexo de Paulo Afonso e aos múltiplos usos da bacia, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) construiu a represa de Sobradinho. No entanto, Sobradinho tem operado em regimes críticos. Em novembro de 2017, por exemplo, atingiu apenas 1,98% de sua capacidade útil de armazenamento, expondo as ruínas das cidades submersas por sua construção — fato que indicava a retomada do leito natural do rio.

Além disso, problemas de manejo no Eixo Leste da transposição impedem que as águas cheguem à represa de Boqueirão, em Cabaceiras (PB), responsável pelo abastecimento de Campina Grande e outros 18 municípios do entorno.

É importante destacar que o uso da água do São Francisco na irrigação é consuntivo, ou seja, a água não retorna ao rio após ser utilizada. Diante da escassez hídrica, retirar ainda mais volume de água para abastecimento urbano ou expansão da irrigação na região Setentrional do Nordeste configura uma medida, no mínimo, imprudente.

O racionamento de energia em 2001 demonstrou que o volume disponível no São Francisco não é suficiente para atender a todas as demandas — geração de energia, irrigação, navegação, abastecimento, entre outras. Caso a sociedade considere necessário o planejamento de usos múltiplos das águas do rio, seria prudente que essa decisão fosse tomada com a devida antecedência, permitindo que o setor elétrico se organize e diversifique suas fontes. Até o início da diversificação da matriz energética com fontes renováveis, mais de 90% da energia gerada no Nordeste provinha das hidrelétricas da bacia do São Francisco — cuja capacidade de geração caiu quase 40% desde 2002.

Medidas como essas são indispensáveis para ampliar a conscientização da população sobre a relevância da água no desenvolvimento sustentável do país, em especial no Nordeste.

Diante desse cenário, uma ação mais coerente seria promover um gerenciamento mais eficiente das águas das grandes represas já existentes no Nordeste. Esses volumes são significativos e não podem ser desprezados. No Ceará, por exemplo, os açudes Castanhão e Orós — com capacidades de 6,7 bilhões e 2 bilhões de m³, respectivamente — ainda não justificaram plenamente suas construções. Suas águas permanecem expostas à evaporação, sem projetos de grande porte que aproveitem seu potencial.

A Paraíba tem se destacado ao adotar um modelo mais eficiente de uso dessas águas. Concluiu o Canal da Redenção, que transporta águas dos açudes Coremas/Mãe D’Água (com 1,2 bilhão de m³) para irrigação nas várzeas de Sousa. No Rio Grande do Norte, a represa Armando Ribeiro Gonçalves — com capacidade de 2,4 bilhões de m³, superior à do Orós — já abastece os municípios de Açu e Ipanguaçu, que vêm se tornando polos de fruticultura. De acordo com o professor João Abner Guimarães Jr., da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, essa represa teria capacidade de abastecer, com 200 litros por habitante/dia, toda a população potiguar pelos próximos vinte anos.

Em síntese, o uso racional e planejado das águas já disponíveis nas grandes represas nordestinas é uma alternativa mais sensata e eficaz do que ampliar a retirada de água do Rio São Francisco. Um bom gerenciamento hídrico, aliado à tecnologia e ao planejamento regional, pode transformar o Semiárido em uma região resiliente e produtiva, capaz de conviver com seus desafios climáticos de forma sustentável.

Outras questões complementares

É preciso dar continuidade ao processo de construção de grandes represas na região, promovendo, sempre que possível, a interligação de suas bacias hidrográficas como forma de utilizar melhor suas águas.

A perfuração de poços em regiões sedimentares é outra alternativa importante, que deve ser incentivada juntamente com a ampliação do programa de construção de cisternas rurais, especialmente voltado às comunidades carentes. Uma cisterna com capacidade de 16.000 litros, por exemplo, pode abastecer, com água de boa qualidade, uma família de cinco pessoas durante os oito meses de estiagem na região. Devem-se também fomentar pesquisas sobre a reutilização de águas servidas para usos menos nobres, como regar jardins, lavar calçadas e automóveis, ou ainda para descarga em sanitários. É indispensável, contudo, que se coloque em prática a cobrança pelo uso da água, conforme previsto na Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (Lei das Águas), que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e define a água como bem público, sujeito à outorga e à cobrança.

Outro aspecto relevante diz respeito ao setor extrativista vegetal. O Semiárido abriga uma grande diversidade de plantas adaptadas ao ambiente seco, muitas das quais com potencial econômico ainda pouco explorado. Podem-se citar como exemplos: espécies produtoras de óleos, como o Catolé, a Faveleira, o Marmeleiro e a Oiticica; de látex, como o Pinhão e a Maniçoba; de ceras, como a Carnaúba; de fibras, como as Bromeliáceas; plantas medicinais, como a Babosa e o Juazeiro; e frutíferas, como o Imbuzeiro, além das forrageiras em geral. A conservação da caatinga e o manejo florestal são fundamentais para garantir a permanência dessas espécies no ambiente e possibilitar seu uso sustentável pela população. Para isso, ações governamentais são imprescindíveis.

No que se refere ao reflorestamento com espécies exóticas, é necessário um estudo mais aprofundado para garantir maior segurança na sua introdução. Já há experiências positivas, como na área do Sertão do Moxotó, onde o reflorestamento com eucalipto tem apresentado bons resultados econômicos.

A pecuária talvez seja a alternativa mais promissora para a região seca, principalmente por se tratar de uma área carente em proteína. Experiências exitosas no Cariri paraibano, especialmente no município de Taperoá, demonstram que o cultivo da palma forrageira e a fenação de gramíneas resistentes à seca — como o capim Buffel e o Urocloa —, aliados à criação de gado igualmente resistente e de dupla aptidão (para carne e leite), como o Guzerá e o Sindi (originários de regiões desérticas da Índia), além de caprinos e ovinos geneticamente melhorados, têm garantido uma vida mais digna aos habitantes da região.

A piscicultura surge como mais uma alternativa viável, a ser desenvolvida por meio do aproveitamento do potencial já instalado em açudes. Para isso, é essencial o apoio governamental aos produtores, sejam pequenos, médios ou grandes, sobretudo no o ao crédito rural.

É igualmente necessário garantir o suprimento de volumoso para os animais nos períodos de estiagem. Para tanto, é fundamental uma política que viabilize o fornecimento de bagaço de cana-de-açúcar — proveniente das usinas localizadas nas regiões úmidas do Nordeste —, devidamente tratado, para ser utilizado como alimento nas fazendas do Semiárido.

É preciso ter um olhar crítico sobre o cultivo de grãos nos limites do Semiárido. A instabilidade climática da região torna essa atividade extremamente arriscada. Não se pode continuar expondo o agricultor nordestino à frustração de preparar o solo, plantar as sementes e perder toda a produção por conta da seca. Estudos da EMBRAPA apontam que colheitas bem-sucedidas ocorrem em apenas 20% dos anos. Em cada 10 anos agrícolas, apenas dois resultam em boas colheitas. Enquanto isso, a necessidade de alimentos para humanos e animais ocorre em 100% dos anos. Muitas vezes, os governos estaduais distribuem sementes logo após uma única chuva, numa ação que parece mais uma tentativa de dar satisfação à opinião pública do que uma verdadeira política agrícola. O resultado é que, na maioria das vezes, novas chuvas não chegam, e todo o esforço do agricultor é perdido. Sem alternativas, ele acaba por se alimentar de cactáceas — tradicionalmente reservadas aos animais — ou de pequenos animais silvestres, como roedores e lagartos, como se tem registrado em episódios críticos em Pernambuco.

É preciso questionar: por que insistir na produção de grãos numa região com tamanha instabilidade climática, se há viabilidade técnica e econômica para produzir proteína animal — carne, leite, ovos e peixes — e, a partir desses produtos, adquirir os grãos necessários à alimentação humana em outras regiões mais favoráveis à agricultura? Trata-se, portanto, de adequar a política agrícola à realidade regional, algo que ainda não foi efetivamente feito.

Após a avaliação realista das possibilidades de irrigação e a reformulação profunda da política de intervenção estatal nas alternativas de produção agrícola, torna-se necessário planejar soluções gerais e locais, que contemplem cultivares adequados à irrigação, técnicas agrícolas apropriadas e estratégias eficazes de comercialização da produção. Nesse processo, é fundamental a criação de um programa de crédito rural específico para a região, que viabilize a sustentabilidade econômica do produtor, possibilitando que ele quite suas dívidas com base no resultado de sua própria produção.

Uma gema preciosa lapidada no clima semiárido nordestino

Considerada uma fazenda modelo em práticas de convivência com o semiárido, a Carnaúba, localizada no município de Taperoá (PB), revelou com criatividade o segredo para enfrentar as secas de forma sustentável. Nela, estabeleceu-se uma verdadeira harmonia entre os animais criados — bovinos, caprinos e ovinos — e as plantas cultivadas e nativas — como a palma forrageira, os capins resistentes à seca e as espécies xerófitas da caatinga —, utilizadas como base alimentar dos rebanhos. Foi assim que a fazenda vem conseguindo minimizar os impactos das estiagens mais severas das últimas décadas.

Nos períodos mais críticos, a queima de cactáceas nativas, como o mandacaru e o xique-xique, para retirada dos espinhos e posterior utilização como alimento animal, voltou a ser uma prática frequente. Essa técnica, que não era utilizada há mais de 30 anos na região do Cariri paraibano, precisou ser retomada durante o último ciclo seco, entre 2012 e 2017, quando os estoques tradicionais se esgotaram.

Na Carnaúba, não se cultivam lavouras de subsistência como milho e feijão. Toda a produção gira em torno da pecuária. Durante o período de seca extrema, os silos da propriedade — que armazenavam silagem, feno e bagaço de cana-de-açúcar — ficaram praticamente vazios. A sementeira com quinze variedades de palma foi consumida e afetada pela praga da cochonilha-do-carmim. Diante desse cenário, os proprietários investiram em alternativas para manter os animais saudáveis. O bagaço de cana, adquirido em regiões úmidas do Nordeste, inicialmente oferecido de forma desidratada (com absorção de apenas 11% dos nutrientes), ou a ser hidrolisado: ao ser tratado com uma solução de água e cal e descansar por 48 horas, o material aumentou sua taxa de absorção para até 60%, otimizando a nutrição animal.

Após testes com diversas raças, a fazenda optou por manter em seu plantel duas raças zebuínas resistentes à aridez: a Sindi, nativa dos desertos do Paquistão, e a Guzerá, originária da Índia. Mesmo emagrecendo durante os períodos mais secos, esses animais mantêm-se ativos graças à alimentação baseada em bagaço hidrolisado, cactáceas e ureia adicionada ao cocho.

A Carnaúba também se destaca na criação de caprinos e ovinos nativos. As raças são mantidas separadamente, como a Azul, a Repartida, a Moxotó, a Canindé e a Marota. Esses animais adaptados têm conseguido encontrar na própria caatinga os recursos necessários para sua sobrevivência. Ao todo, são quinze raças diferentes, utilizadas conforme o perfil de cada propriedade rural. A cabra nativa, por sua vez, mostrou-se mais eficiente e lucrativa para o agricultor do que as raças exóticas.

O proprietário da fazenda, Manoel Dantas Vilar Filho, conhecido como Manelito (já falecido), foi um profundo conhecedor da região e das secas que a assolam. Ex-funcionário da Sudene, Manelito registrava, desde 1910, os índices pluviométricos do Cariri paraibano. Segundo ele, Taperoá jamais esteve tão seco quanto no ciclo 2012–2017. Para Manelito, “só se ocupam e pensam sobre a seca depois que ela já está instalada no Nordeste”.

Seus filhos, atuais gestores da propriedade, continuam seguindo à risca o plano de manejo e de comercialização criado por ele, convictos de que é possível conviver com as estiagens com dignidade e planejamento.

Com base na experiência acumulada ao longo das décadas, Manelito sempre defendeu que a chave para o sucesso no semiárido está em dois pilares: plantas e animais adaptados ao clima regional. Segundo ele, se essa diretriz for efetivamente perseguida, o semiárido nordestino poderá ser a região mais produtiva — e a mais segura — entre todas as zonas secas do mundo para as populações humanas.

Esse comprometimento também se reflete na fábrica de laticínios da fazenda, onde são produzidos queijos finos a partir do leite de cabras e vacas criadas localmente. Os queijos são aromatizados com especiarias da flora regional — como aroeira, marmeleiro, alfazema e cumaru —, levando delicadeza e sabor típicos da região mais seca do Brasil aos paladares de consumidores que muitas vezes desconhecem a dura realidade por trás de tanta resiliência.

A continuidade das pesquisas

Para viabilizar as mudanças necessárias no setor produtivo do Semiárido nordestino, é imprescindível desenvolver ações voltadas à convivência com as estiagens. No entanto, isso exige garantir à população o o a políticas de crescimento econômico, humano, ambiental, cultural, científico e tecnológico. Em outras palavras, conviver com o Semiárido é não apenas possível, mas demanda vontade individual, coletiva e, sobretudo, política.

Essa convivência exige investimentos orientados pelos princípios da sustentabilidade, assegurando o o à água, a segurança alimentar e o fortalecimento das comunidades rurais e tradicionais. É igualmente necessário estimular a agricultura familiar, promover a inclusão de mulheres e jovens nos processos de desenvolvimento, difundir tecnologias adaptadas ao contexto semiárido, conservar e regenerar os recursos naturais da Caatinga e buscar fontes adequadas de financiamento.

Diante desse contexto, a continuidade das pesquisas no setor é fundamental, considerando um conjunto de ações estruturantes, julgadas essenciais para alcançar uma convivência digna com as secas recorrentes na região. A seguir, são detalhadas algumas dessas ações:

1. Crédito rural

Criação de um programa de crédito que adeque a política agrícola à realidade regional, permitindo que produtores — pequenos, médios ou grandes — possam quitar suas dívidas com o próprio produto gerado em suas propriedades.

2. Irrigação e abastecimento

Realização de estudos para compreender os fatores que contribuem para a salinização dos solos em ambientes semiáridos;

Elaboração de planos de manejo para o uso sustentável de águas salinas;

Pesquisas sobre o comportamento de culturas agrícolas irrigadas com águas salobras;

Seleção e cultivo de espécies halófitas (plantas comestíveis tolerantes à salinidade) em áreas degradadas;

Desenvolvimento de tecnologias economicamente viáveis para a recuperação de solos salinizados;

Levantamento do potencial irrigável de todo o Nordeste, incluindo áreas aluviais e sedimentares;

Apoio à gestão eficiente das águas das grandes represas nordestinas, incluindo a interligação de bacias hidrográficas;

Incentivo à instalação de cisternas nas zonas rurais — e, em casos críticos, também nas áreas urbanas —, priorizando comunidades com maior vulnerabilidade hídrica;

Estudos voltados à reutilização de águas servidas para usos não potáveis, como irrigação de jardins, lavagem de veículos, limpeza urbana, sanitários e processos industriais específicos;

Implementação da cobrança pelo uso da água, conforme previsto na Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997), que a reconhece como bem público sujeito a outorga e remuneração.

3. Extrativismo vegetal

Aprofundamento dos estudos sobre a flora da Caatinga, visando identificar o potencial frutífero, forrageiro, medicinal e industrial (óleos, ceras, fibras, látex), promovendo seu uso sustentável e evitando a extinção de espécies;

Avaliação criteriosa da introdução de espécies florestais exóticas, com foco na mitigação de impactos ambientais adversos.

4. Pecuária

Desenvolvimento de ações voltadas à criação de raças bovinas e pequenos ruminantes geneticamente adaptados ao clima semiárido, assegurando a sobrevivência e o bem-estar das famílias durante os períodos de estiagem;

Ampliação do cultivo de palma forrageira e forrageiras perenes, como os capins Buffel e Urochloa, garantindo a alimentação animal durante a seca;

Criação de políticas que permitam a aquisição, por parte dos produtores, de bagaço de cana-de-açúcar em volume suficiente junto às usinas, como alternativa alimentar estratégica;

Pesquisa e aprimoramento do processo de hidrólise do bagaço de cana, visando à sua melhor digestibilidade e aproveitamento nutricional pelos animais.

5. Produção de grãos

Incentivo ao cultivo de milho e feijão nas sub-regiões do Semiárido com condições ambientais compatíveis, conforme orientações dos estudos de Zoneamento de Risco Climático conduzidos pela Embrapa, especialmente os da Plataforma de Inteligência Territorial Estratégica, que viabilizam uma agricultura mais segura no Nordeste seco.

6. Necessidade de pesquisas integradas

Valorização do conhecimento gerado por instituições, centros de pesquisa e universidades da região;

Apoio a estudos voltados ao desenvolvimento de sistemas produtivos integrados, considerando o uso de fontes de energia renovável (solar, eólica e biomassa), a seleção de cultivares, o espaçamento ideal, a pecuária adaptada, o uso eficiente de insumos, a nutrição vegetal e animal, a gestão hídrica e os aspectos fitossanitários.

Com a consolidação dessas frentes de pesquisa e a adoção de políticas públicas coerentes com a realidade climática e social do Semiárido, será possível transformar os desafios impostos pelas secas em oportunidades de desenvolvimento sustentável e de fortalecimento da autonomia das populações que habitam essa região.

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____________________________- João Suassuna debate a Transposição do São Francisco no programa “Assunto do Dia” (2011)

https://www.youtube.com/watch?v=3-u3XIvBHAQ

____________________________ – Histórico das políticas de combate à seca, Ponto de Vista, TV Câmara, Brasília DF, 2013

https://www.camara.leg.br/tv/404266-ponto-de-vista-trata-do-historico-das-politicas-de-combate-a-seca/

_____________________________- Plantio de culturas de subsistência no Semiárido nordestino: um caso a ser repensado, artigo de João Suassuna, 2013 

https://www.suassuna.net.br/2025/05/plantio-de-culturas-de-subsistencia-no.html

____________________________ – Água, Fundação Demócrito Rocha, CE, 2015, IN: Portal da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)

https://antigo.fundaj.gov.br/index.php/artigos-joao-suassuna/10628-agua-artigo-de-joao-suassuna

____________________________ – João Suassuna aborda o tema ÁGUA, colaborando com a Fundação cearense, Demócrito Rocha, em trabalho sobre a Convivência com o Semiárido, 2016, IN: Portal da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)

https://www.gov.br/fundaj/pt-br/destaques/observa-fundaj-itens/observa-fundaj/artigos-de-joao-suassuna/joao-suassuna-aborda-o-tema-agua-colaborando-com-a-fundacao-cearense-democrito-rocha-em-trabalho-sobre-a-convivencia-com-o-semiarido-2016

____________________________- Gestão hídrica no Semiárido nordestino privilegia interesses políticos e coloca em risco a vida na região. Instituto Humanitas Unisinos (IHU), 2020

https://www.ihu.unisinos.br/603156-gestao-hidrica-no-semiarido-nordestino-privilegia-interesses-politicos-e-coloca-em-risco-a-vida-na-regiao-entrevista-especial-com-joao-suassuna

_____________________________- Residentes do Setentrional nordestino começam a se impacientar e exigir do Governo Federal a reabertura dos canais da Transposição do Rio São Francisco, Blog de João Suassuna, http://www.suassuna.net.br, 2023

http://www.suassuna.net.br/2023/03/residentes-do-setentrional-nordestino.html

______________________________- Série “Saga da Transposição do Rio São Francisco”, 2025

http://www.suassuna.net.br/2017/03/serie-saga-da-transposicao-do-rio-sao.html

______________________________- A inviabilidade do uso das águas da Transposição do Rio São Francisco, por João Suassuna, 2025

https://www.suassuna.net.br/2025/05/a-inviabilidade-do-uso-das-aguas-da.html

______________________________- Análise de Desempenho do Projeto de Transposição do Rio São Francisco, por João Suassuna, 2025

https://www.suassuna.net.br/2025/05/analise-do-desempenho-do-projeto-de.html

______________________________- Eixo Norte da Transposição do Rio São Francisco: previsão de consumo de um volume inexistente no rio, artigo de João Suassuna, 2025

https://www.suassuna.net.br/2025/04/eixo-norte-da-transposicao-do-rio-sao.html

____________________________ – A situação “Hidro-ilógica” da Transposição do São Francisco – 06/06/2025

https://www.suassuna.net.br/2025/06/a-situacao-hidro-ilogica-transposicao.html

SUASSUNA, JOÃO; AUDRY, PIERRE – Estudo da Salinidade das Águas de Irrigação das Propriedades do GAT e da sua Evolução Sazonal, Durante os anos de 1988 e 1989: catálogo das observações de campo e dos resultados das análises, CNPq/BID/PDCT-NE/FUNDAJ, Recife, setembro de 1992 a, Pg.318.

_________________________________ – Estudo da Salinidade das Águas Utilizadas em Pequena Irrigação no Nordeste e da sua Evolução Sazonal, durante os anos de 1988 e 1989, CNPq/ORSTOM/FUNDAJ, Informe Técnico, In: I Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, Anais do Simpósio, Recife, 25 a 27 de novembro de 1992 b, Pg. 303-305.

_________________________________ – Estatística de Salinidade das Águas de Irrigação do Nordeste Semiárido Brasileiro, ORSTOM/FUNDAJ, Comunicação Oral, In: 458 Reunião Anual da SBPC, Anais da Reunião, Recife- PE, 11 a 16 de julho de 1993, Pg. 53.

_________________________________ – A salinidade das águas disponíveis para a pequena irrigação no sertão nordestino. Caracterização, Variação Sazonal, Limitações de uso. Junho, 1995.

https://horizon.documentation.ird.fr/exl-doc/pleins_textes/divers10-09/010004811.pdf

TRINDADE, JOSÉ AUGUSTO – A visão do Nordeste na perspectiva de José Augusto Trindade, 1990, Fundação Casa de José Américo, 249 p.

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_________________________________- HOMENAGEM AOS 87 ANOS DE MANELITO DANTAS

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________________________________ – FAZENDA CARNAÚBA – História por Manelito Dantas

https://www.youtube.com/watch?v=r0D4TUEcNgQ

________________________________ – Fazenda Carnaúba: CAMPO DE PSASTEJO DE PALMA / INÍCIO PROJETO

https://www.youtube.com/watch?v=e0oY0D6Wbq8

________________________________ – Fazenda Carnaúba: CAMPO DE PASTEJO DE PALMA / PARTE 02

https://www.youtube.com/watch?v=dB11-ThRQHA

________________________________ – DIA D FAZENDA CARNAÚBA | TAPEROÁ-PB | SÁBADO 23.07.2022

https://www.youtube.com/live/tKOvpRjtjus

 

*João Suassuna é Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e Membro das Academias Pernambucana e Brasileira de Ciência Agronômica.

Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado em seu Blog

 

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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